nunca deixo de pensar naquela frase do Guimarães Rosa : "pão ou pães, é questão de opiniães". Eu ia ler o livro e depois da frase não deu, ela ficou latente na minha cabeça, e lembrei do filme "Vidas Secas", baseado no livro de Graciliano Ramos. aquele monte de gente falando tudo ao mesmo tempo. aquilo o que a escola me mostrou e eu nunca esqueci. frames fragmentos, daquilo tudo o que eu via e algumas coisas nunca se perderam de mim, ao contrário, se fundiram em mim. Eu gosto de papel, da textura da coloração, os acasos dos fiapos, as voltas casuais que formam arcos. Posso dizer que tenho um romance com o papel. tenho. e ele não me decepciona. Foi num papel que vi a caligrafia da mãe e era a parte dela que eu pude olhar a vida inteira e me lembrar de que ela era real, e a sutileza da vida, tão frágil quanto um papel, e tão à disposição de qualquer coisa pra se fazer como o papel, de pintar à imprimir cheques dinheiros e limpar a bunda, a fazer poesia e deixar o legado impresso no papel, impressa a letra a ternura e também sobre contratos impróprios muitos escárnios. o papel está tão disposto à nós, como percebi que a vida estaria. quando olho pra um papel é como se eu visse uma fotografia, e penso em vidas secas, num Brasil esquecido, sofrido e calado feito um papel. marcado pelo tempo feito as rugas que o sol marca na pele daquelas pessoas que falam tudo ao mesmo tempo agora. e a comida? e a moeda? e o papel? "Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães…” Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas (Carolina Suñer, março de 2023)
nas imagens a série: "paperl sobre papéus". ______"favos paralelos" ___ "arquitetura dos sonhos" "tv de sem entes"______
imagens do livro caderno, feito em 2023, março, em São Paulo, feito todo com colagens